Entraram em vigor no país regras da ANS para estimular o parto normal na rede de saúde particular.
O Brasil lidera o ranking de países onde mais se realizam o parto cesárea. O crescimento deste tipo de parto vem ocorrendo descontroladamente a cada ano em todo o mundo. Alguns especialistas já usam, inclusive, o termo: “epidemia de cesáreas” para avaliar o atual cenário médico da realização de partos em todo o planeta. Segundo a Organização Mundial da Saúde, no Brasil cerca de 85% dos partos realizados na rede médica particular são cesáreas, muito acima do limite de 15% recomendado pela OMS.
Por conta disso, a Agência Nacional de Saúde estabeleceu regras que já entraram em vigor no país na última semana. De acordo com a ANS, o objetivo é estimular as mães a terem seus filhos pelo método tradicional, ou seja, o chamado parto normal, além de conscientizar as mulheres sobre os riscos existentes na realização do parto cesárea. Com as novas regras já valendo, agora as gestantes terão que assinar um termo consentindo sobre os riscos da cirurgia. O intuito é fazer com que os médicos tenham maior influência no momento de se tomar a decisão sobre qual o tipo de parto será realizado.
A ginecologista e obstetra Mariana Bignardi Halla avalia o aumento dos partos cesáreas no Brasil e no mundo e os motivos que levam as gestantes em optarem por esse tipo de parto. “Em primeiro lugar a falta de tempo e paciência, tanto dos médicos como das pacientes. Depois a falsa ideia de que a cesárea é mais segura e mais prática. Porém isto não é verdade. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) adverte que o parto cesárea acarreta mais riscos para as mulheres que o parto normal”, diz.
“Em artigo publicado em 20 de maio deste ano no National Vital Statistics Reports, a mulher que escolhe o parto cesárea na primeira gestação tem maiores chances de transfusão sanguínea e internação em Centro de Terapia Intensiva (CTI). O relatório também mostra que, após um primeiro parto cesárea, cerca de 90% delas têm uma segunda cesariana. Os índices de ruptura uterina e histerectomia também foram maiores nesta via de parto”, afirma Mariana.
Outros fatores:
Para Domingos Mantelli, também obstetra e ginecologista, O número de cesáreas é alto no Brasil por uma série de fatores. “Primeiro, é uma mentalidade antiga do medo do parto normal e há muitos mitos que envolvem o parto normal. Por outro lado, a comodidade pelo tempo, horário agendado, tanto do médico quanto da paciente, já que o parto normal pode acontecer a qualquer hora”, diz.
“E, aliado a isso, a má remuneração dos planos de saúde aos médicos, para que fiquem lá por horas partejando e aguardando um parto normal, enquanto uma cesárea é feita em pouco tempo, em cerca de uma hora. Então, não existe apenas um fator para isso, é uma soma de fatores, tanto do lado do paciente quanto do médico, que fazem com que o Brasil, infelizmente, seja o campeão de cesarianas no mundo”, conclui Mantelli.
Partos Normais X Partos Cesáreas:
Um dos pontos mais defendidos pela OMS é quanto a melhor difusão das informações sobre os benefícios e riscos de cada tipo de parto, ainda desconhecidos para a maioria das mulheres. “A cesária é um procedimento invasivo, são abertas sete camadas de tecidos até a extração fetal. Embora complexo, pode ser feito em cerca de duas horas. A cicatrização completa levará aproximadamente dois anos. É feita uma incisão abdominal de 10 cm em média, é pouco perceptível e fica escondida na linha do biquíni”, explica Mariana Halla.
“Já o parto normal, pode ser feito sem incisão alguma, e caso seja necessário, uma pequena incisão de 3-4 cm é feita no períneo, chamada episiotomia, e a recuperação é bem mais rápida. Além disso, no parto normal, conseguimos colocar o bebê diretamente nos braços da mãe, no exato momento do nascimento, aumentando a sensação de afeto e levando e estreitamento dos laços para o resto da vida”, garante a ginecologista e obstetra.
Segundo estudos, é mais comum a morte de mulheres submetidas às cirurgias de parto cesárea, o que aumentam os riscos em comparação aos procedimentos para a realização do parto normal. Mariana Bignardi Halla traz outras diferenciações. “A recuperação pós-operatória é muito mais tranquila no parto normal, uma vez que haverá menor lesão de tecidos e, portanto, menos dor. Isso favorece os cuidados com o recém-nascido, especialmente durante a amamentação. A cicatriz uterina previa pode aumentar o risco de algumas sérias complicações como: placenta prévia, outras patologias hemorrágicas, morbidade neonatal e infecções puerperais”.
“A cesariana pode deixar os bebês vulneráveis a problemas crônicos de saúde, como asma, diabetes e obesidade no futuro, segundo uma nova análise de 10 de Junho de 2015, no British Medical Journal. Ainda, o parto normal favorece a colonização do trato digestivo do recém-nascido com bactérias ‘do bem’ provenientes da flora materna, contribuindo para menor incidência de doenças respiratórias e alérgicas, além de diabetes mellitus no futuro”, conclui a ginecologista.
Fonte: Br Blastingnews